UNIDADE 1 | CAPÍTULO 1

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Neste capítulo estudaremos

INTRODUÇÃO À INTRADERMOTERAPIA
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Linha do tempo da mesoterapia

A mesoterapia também é denominada de intradermoterapia, ela é uma técnica bastante utilizada pelos habilitados, pois os resultados obtidos são extremamente relevantes e sua aplicação é relativamente simples. Porém, com o objetivo de compreender melhor os princípios que envolvem os tratamentos que utilizam a intradermoterapia, faz-se necessário ter um conhecimento prévio sobre os processos históricos que fundamentaram a técnica.

»   400 a.C.: Hipócrates teria usado folha de figueira da Barbária (cacto) para tratar dores no ombro de um pastor local. No entanto, chineses já usavam essa técnica há 2.000 anos com martelos guarnecidos de pontas, denominada acupuntura (LE COZ, 2012).

»   1793: Foi comprovada a ação terapêutica de substâncias injetáveis, pelo Dr. Pravaz (LE COZ, 2012).

»   1832: Esse mesmo pesquisador inventa a seringa e a agulha oca (LE COZ, 2012).

»   1900: Na França surge o “Ressuscitador”, aparelho que contém numerosas agulhas maciças fixadas, com ajuda de um sistema elástico essas numerosas agulhas são espetadas na pele, por unguento (LE COZ, 2012).

»   1910: Na Bélgica, é visto pelo Dr. Lemaire, aplicações de procaína para tratar neuralgias, e mais tarde Leriche aplica Procaína em gânglios e tendões dolorosos (LE COZ, 2012).

»  1948 a 1950: Drs. Pistor e Lebel expandem as infiltrações locais de procaína para diversas áreas de aplicações (LE COZ, 2012).

»   1952: Marco da Mesoterapia – Dr. Pistor trata um sapateiro asmático com uma injeção de 10 mL de procaína por via intravenosa, no entanto, não há melhora evidente da dispneia, enquanto que a surdez deste diminui. Desse modo, Pistor teve a ideia de injetar localmente, ou seja, próximo ao lóbulo da orelha, doses baixas de procaína que resultou em diminuição substancial da surdez (LE COZ, 2012).

»   1953: A técnica de Pistor é divulgada e muitos o procuram, no entanto ele observa que a técnica não é eficaz para todos os pacientes surdos que ele trata, entretanto, ele observa melhora em outros aspectos, por exemplo: dores da articulação temporomandibular são eliminadas, eczemas do conduto auditivo desaparecem e que os zumbidos são reduzidos (LE COZ, 2012).

»   1953 a 1958: Os locais de injeção se multiplicam, promovendo a descoberta de outras indicações (LE COZ, 2012).

»   1958: O nome Mesoterapia é proposto na imprensa médica em um artigo publicado na revista “La Presse Medicale” em 4 de junho, por Pistor. Neste artigo, ele destacava as novas propriedades da procaína local na patologia humana. Propondo que “A ação sobre os tecidos originários do mesoderma é tão significativa que esses tratamentos mereceriam o nome global de mesoterapia” (LE COZ, 2012).

É  interessante  ressaltar  nesse  momento  que  atualmente  a  técnica não abrange somente tecidos da mesoderme (vasos, tendões, tecidos conectivos etc.), mas, por exemplo: lesões dermatológicas (ectoderma), patologias digestivas (endoderma) também podem ser amenizadas pela mesoterapia (LE COZ, 2012).

»   1960: Prof. Bordet pede ao Dr. Pistor que ensine Mesoterapia aos estudantes de Medicina Veterinária, isso vai até 1965, quando Bordet toma a liderança do ensinamento para os alunos (LE COZ, 2012).

»   1961: Primeiro livro publicado de Pistor: La Mésothérapie (LE COZ, 2012).

»   1964: É criada por Pistor a Sociedade Francesa de Mesoterapia, nomeando o Dr. Lebel para a presidência, de primeira instância foram reunidos 16 médicos (LE COZ, 2012).

»   1976: Pistor resumiu a técnica de mesoterapia com as seguintes palavras – “POUCO, POUCAS VEZES E NO LOCAL ADEQUADO” (LE COZ, 2012).

Ainda  nesse  ano  Pistor  reconheceu  que  suas  recomendações  eram empíricas baseadas em sua própria experiência clínica (LE COZ, 2012).

»   1978: Pistor faz uma conferência nos EUA, em Nova York (LE COZ, 2012).

»   1980: Pistor cria o multipuntor (seringa com multipunturas) (LE COZ, 2012).

»   1982: Falecimento do Dr. Lebel, sobre quem Pistor disse: “O homem que mais ajudou a mesoterapia em seus momentos difíceis acaba de falecer. Ele era meu mestre e meu amigo. Se a mesoterapia de hoje reúne nomes que começam a ser conhecidos, um deles, particularmente insubstituível, que está estritamente ligado ao início histórico da mesoterapia e que não poderá jamais ser esquecido, é o nome de Mario Lebel” (LE COZ, 2012).

Isso porque Lebel teve três ideias e ações principais, as quais foram:

›   A agulha curta ser o pequeno elo entre todos.

›   Ter sido o primeiro presidente em 1964.

›   A difusão da técnica entre os veterinários.

»   Ainda em 1982: criaram o primeiro diploma da universidade de mesoterapia pela faculdade de Paris XIII (LE COZ, 2012).

»   1991:  Dr.  Pistor  cede  seu  lugar  a  frente  da  Sociedade  Francesa  de Mesoterapia ao Dr. Le Coz (LE COZ, 2012).

»   1992 a 2002: Drs Pistor e Le Coz viajam juntos pelo mundo para difundir a mesoterapia e ensiná-la aos médicos da América do Sul, Europa e África (LE COZ, 2012).

»   2001:  Surgiram  trabalhos  indexados  no  MedLine  sobre  o  uso  da Intradermoterapia/Mesoterapia para as dermatoses inestéticas (LE COZ, 2012).

»   2002: Criação do diploma interuniversitário. Qualificação do ato mesoterápico pelo Caisse Nationale d´Assurance Maladie (CNAM) (LE COZ, 2012).

»   2003: Falecimento do Dr. Pistor (LE COZ, 2012).

»   2004: Médicos americanos encontram-se na França (Paris) para estágios do Dr. Le Coz e partem para difundir a técnica de origem francesa para o outro lado do Atlântico. A partir daí Le Coz é regularmente convidado para ir ao Canadá e EUA ensinar a técnica aos colegas (LE COZ, 2012).

»   2005: Ásia administra a nova abordagem terapêutica (LE COZ, 2012).

»   2007: O diploma interuniversitário de Mesoterapia já compreende cinco faculdades (LE COZ, 2012).

»   2008: Até o momento o ato mesoterápico introduzido na nomenclatura do CNAM ainda não foi numerado (LE COZ, 2012).


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Intradermoterapia na prática farmacêutica

A intradermoterapia é uma técnica minimamente invasiva que consiste em injeções intradérmicas ou subcutânea de várias misturas diluídas de extratos naturais de plantas, agentes homeopáticos, produtos farmacêuticos, vitaminas e outras substâncias bioativas que são infundidas em quantidades muito pequenas que variam de 0,1 mL a 0,2 mL através de múltiplas punturas dérmicas ao invés de poucas injeções (BROWN, 2006; TANRIKULU, 2007; KALIL, 2006). Essa técnica também é conhecida como mesoterapia, no entanto, este nome não condiz apenas com um tratamento estético em específico, e sim, descreve um método de fornecimento de drogas. Além disso, o termo mesoterapia é proveniente da mesoderme, uma das três camadas germinativas do embrião que origina tecido conjuntivo, muscular, circulatório, entre outros (ROTUNDA, KOLODNEY, 2006).

Atenção

É interessante ressaltar que antes da mesoterapia ser aceita como uma modalidade de tratamento estético, a intradermoterapia era utilizada no tratamento de diversas patologias, principalmente para dores e reumatismo (KALIL, 2006). Michel Pistor, médico francês, em 1952 foi o primeiro a relatar a utilização da mesoterapia com injeções de procaína próximas à orelha de pacientes com deficiência auditiva para melhorar a audição, embora essa tenha sido restaurada por um curto período. Foi relatado melhora nas articulações, zumbido e eczema na região tratada (ROTUNDA, KOLODNEY, 2006; PISTOR, 1964).

Desde então, a intradermoterapia vem se tornando cada vez mais popular no ramo estético, principalmente por sua extensa finalidade, pois esta pode ser usada para tratamento de rejuvenescimento facial, flacidez, hidrolipodistrofia, ginoide, alopecia, redução de medidas e emagrecimento (DUNCAN, ROTUNDA, 2011; ROTUNDA, 2009).

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Mecanismo de ação da intradermoterapia

Segundo Sivagnanam (2010), a derme é uma junção das funções imunológicas, circulatórias e neurológicas. Deste modo, ele propõe que a ação medicamentosa da técnica de intradermoterapia pode atuar em uma dessas funções desencadeando o processo de reparo, seja na flacidez ou estria, produzindo colágeno e elastina ou então pela vasodilatação aumentando o processo lipolítico no local, por exemplo.

A pele tem uma propriedade de reservatório, principalmente no nível da camada córnea. A função de barreira é assegurada pela camada córnea, cuja eliminação aumenta consideravelmente a permeabilidade da pele (WEPIERRE, 1980a). Desse modo, os produtos injetáveis ativam os receptores dérmicos e se difundem lentamente, através da microcirculação. Não é necessária a presença física do fármaco no órgão alvo, pois o produto pode atuar através de receptores responsáveis por desencadear um influxo nervoso por liberar mediadores químicos com ações a distância. Esses receptores são numerosos, porém variam em quantidade segundo sua localização e profundidade (KAPLAN, 1992).

De modo geral, na mesoterapia preconiza-se a aplicação do medicamento na região mais próxima do órgão-alvo. É possível pensarmos que o produto injetado localmente tenha um valor energético, mais do que químico, em certas condições. Além disso, as moléculas grandes e os compostos fortemente lipofílicos são reabsorvidos de forma lenta e preponderantemente por via linfática. As moléculas pequenas são absorvidas principalmente por via sanguínea (WEPIERRE, 1980b).

A retenção nas estruturas cutâneas e subcutâneas permite ao medicamento permanecer concentrado sob a zona de aplicação e produzir efeitos farmacológicos locais, enquanto sua difusão periférica permanece reduzida e não acarreta ação sistemática (LE COZ, 2012).

A persistência de medicamentos nas regiões profundas da pele foi comprovada após aplicação de alguns corticoides, de tiroxina, de estradiol, entre outros. Esse experimento mostrou que após a absorção, os medicamentos aplicados retornam diretamente ao coração sem passar pelo fígado (WEPIERRE J,1980c). Os efeitos secundários por via intradérmica são reduzidos com relação às vias subcutâneas e intramuscular, uma vez que estas atingem a grande circulação de forma mais rápida quando comparada à via intradérmica (LE COZ, 2012).

A punctura promove um estímulo no sistema neuroendócrino, dando origem à liberação de uma série de neurotransmissores, tais como: a encefalina responsável pela modulação da dor, promovendo um efeito anestésico após a sua liberação; a betaendorfina responsável pela ação lipolítica e aumento da imunidade, aumentando a concentração de linfócitos T, como acontece também na prática de exercícios físicos; a substância decapeptidio, envolvida nas respostas inflamatórias, liberada quando se provoca  uma irritação ao tecido, causando  vasodilatação, taquifilaxia, aumento da permeabilidade venular (edema), eritema, liberação de aníon superóxido e outros mediadores como, histamina, prostaglandinas, enzimas lisossômicas e, finalmente induz a reação inflamatória irritativa, desencadeando reflexos somáticos e viscerais. A puntura promove também estimulo à produção de colágeno e elastina (recuperação tecidual) (MAYA,2007).

Mrejen, em 1992, observou que injetando medicações em diferentes profundidades dérmicas, no caso entre 4 mm e 10 mm, havia diferença no tempo de excreção da medicação. Aplicando numa profundidade de 10 mm percebeu-se que o produto atingia a circulação mais rapidamente e sua eliminação ocorria antes do desejado. No entanto, quando o produto era aplicado em uma profundidade de 4 mm o tempo que o medicamento ficava disponível na camada era maior. Com isso, padronizou-se a aplicação da intradermoterapia em uma profundidade ideal de 4 mm. Nessa profundidade, após 10 minutos decorrentes da aplicação, a quantidade do  fármaco  no  local  da  aplicação  permanece  em  50%.  Em  profundidades maiores que 4 mm, após 10 minutos a permanência do fármaco declina para 16% (TENNSTEDT, 1976; AMIN et al., 2006).

Dessa forma, é evidente que as injeções intradérmicas se difundem por via sanguínea. Assim,  concluiu-se que  a  difusão  de  um  produto  em  intradermoterapia  depende da  profundidade  a  que  é  injetado. Esta  diferença  pode  ser  ilustrada  com  curvas de eliminação: o caminho intradérmica superficial teria uma curva de eliminação monoexponencial, enquanto que o caminho intradérmica mais profunda iria ter uma curva biexponencial (eliminação inicial mais rápido, correspondendo a uma injeção intravenosa, seguida de eliminação mais lenta no reservatório derme) (MREJEN, 1992).

Saiba Mais

Por muito tempo, a base de cada mistura foi a procaína. Atualmente, além da procaína utilizamos hoje com muita frequência lidocaína ou soro fisiológico como solvente de base. (LE COZ, 2012). Na hora da mistura das medicações na mesoterapia é importante saber que estas precisam ser preparadas em uma ordem precisa de pH para evitar flóculo.(LE COZ,2012)