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Neste capítulo estudaremos

O retrato é um gênero que exige tempo e dedicação do fotojornalista: é preciso variar posições, pontos de vista, os planos, a iluminação e o cenário até que se possa considerar o trabalho como concluído.
A difícil tarefa do fotojornalista ao retratar alguém consiste em procurar não apenas mostrar a faceta física exterior da pessoa ou do grupo, mas também em evidenciar um traço da sua personalidade (individual ou coletiva, respectivamente). A expressão facial é sempre muito importante no retrato, já que é um dos primeiros elementos da comunicação humana. (SOUSA, 2002)
O problema é que no fotojornalismo diário, além do tempo escasso, temos pouco ou nenhum controle sobre alguns desses elementos. Nesse contexto, o domínio das técnicas básicas é imprescindível para um bom resultado.
T1. Abertura do diafragma
Além de controlar a intensidade de luz que atinge o sensor, a abertura do diafragma é responsável, também, pelo controle da profundidade de campo. Em retratos, é técnica consagrada o uso de grandes aberturas para obter pouca profundidade de campo. Desfocando o plano de fundo (ou o primeiro plano, caso o retratado esteja no fundo) é possível “limpar” a cena, direcionando o olhar do espectador para o protagonista e trazendo suavidade para a composição. Contudo, lembre-se: fotojornalismo tem como objetivo informar e, muitas vezes, a contextualização do sujeito no ambiente contribui para a compreensão do retrato (como veremos, a seguir, nos retratos ambientados). Nesses casos, evite desfocar o fundo para preservar a informação.
Outra situação que pede maior profundidade de campo é a fotografia de grupos: se as pessoas estiverem em planos distintos (como nas fotos de times de futebol), será necessário fechar o diafragma para que todos os planos fiquem nítidos; principalmente se você estiver usando teleobjetivas. Lembre-se: quanto maior a distância focal, menor a profundidade de campo. O mesmo cuidado deve ser tomado se a câmera estiver muito próxima do modelo: quanto mais próximos estivermos do primeiro plano, menor a profundidade de campo.
Compare a profundidade de campo nas imagens abaixo: na primeira, a abertura do diafragma é f32; na segunda é f5, resultando em pouca profundidade de campo.
Figura 36. Abertura de diafragma f32.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/51/Jonquil_flowers_at_f32.jpg.
Figura 37. Abertura de diafragma f5.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/01/Jonquil_flowers_at_f5.jpg.

Tirado de uma palavra japonesa para “desfoque”, bokeh se tornou um jargão usado em fotografia para descrever como uma lente renderiza um fundo fora de foco.
Desfocar o plano de fundo em retratos – usando grandes aberturas de diafragma para diminuir a profundidade de campo – é uma técnica muito apreciada. Nessas circunstâncias, o desfoque garante que exista um espaço sem informação relevante na imagem, direcionando os olhares para o objeto principal: a pessoa.
Quanto maior a abertura do diafragma de sua lente, melhor sairá o bokeh. Uma lente de 50 mm é uma boa escolha para iniciantes: é barata, fácil de encontrar e sua abertura abre até f / 1.8 ou f / 1.4, mas as teleobjetivas são opções mais profissionais. Contudo, lembre-se: se estiver usando uma 50mm em uma câmera de sensor APS-C, ela funcionará como uma meia-tele – 75 ou 80mm, dependendo do tamanho do sensor.
Considere, também, o formato das lâminas do diafragma: ele molda a aparência do bokeh. Uma lente com 9 lâminas cria uma abertura mais redonda, fazendo com que as fontes de luz pareçam circulares e, desse modo, mais naturais. Já uma lente com menos lâminas (5 ou 7) produz figuras em forma de polígono.
Paisagens urbanas são locais perfeitos para o bokeh: luzes de edifícios de rua fornecem componentes visuais interessantes para seu plano de fundo. A contraluz refletida na água também cria efeitos bokeh cativantes, assim como a luz que passa através das folhas das árvores em um dia de muito sol.
Quando pensamos em bokeh, imaginamos fotografias com o fundo desfocado, mas o efeito também pode ser aplicado ao primeiro plano. Uma forma de maximizar esse efeito é aumentar a distância entre o assunto e o fundo: o modelo deve estar a vários metros de distância do fundo para obter o melhor efeito. Quanto menor a distância focal da objetiva, mais pode ser necessário ficar perto do assunto para criar um bokeh mais pronunciado. Por outro lado, se você estiver usando uma telefoto (como 85 mm ou mais), afastar-se da pessoa não diminuirá o efeito bokeh devido ao longo comprimento focal da lente. E, seja qual for a objetiva utilizada, é sempre aconselhável manter o personagem longe o suficiente do fundo.
Figura 38. fundo com efeito bokeh, foto de Irfan Nugraha, Pelexs.
Fonte: https://images.pexels.com/photos/3743150/pexels-photo-3743150.jpeg?auto=compress&cs=tinysrgb&dpr=3&h=750&w=1260.
T2. Velocidade do obturador
Ao definir a velocidade do obturador, é preciso levar em consideração a distância focal da objetiva utilizada: quanto maior a distância focal, maior é a possibilidade de tremer, gerando imagens sem nitidez. Como regra geral, a velocidade do obturador deve ser igual ou maior que a distância focal efetiva (lembre-se que se estiver usando uma câmera com sensor APS-C, a distância focal efetiva será definida pelo fator de corte). Por exemplo: se estiver fotografando com uma 200 mm, use uma velocidade do obturador de 1/250 seg ou mais alta. Outro recurso é utilizar o sistema antivibração da objetiva (ou da câmera, no caso das mirrorless), permitindo o uso de velocidades um pouco mais lentas (cerca de dois pontos).
Mas lembre-se que o estabilizador não evita borrões por conta do movimento rápido do assunto: ele atua, apenas, sobre o movimento do fotógrafo durante o click. O mesmo acontece com o tripé: seu uso não evitará borrões decorrente do movimento do retratado. As pessoas se movem (e muito!) enquanto são fotografadas – mesmo que estejam sentadas ou apoiadas – e isso é interessante porque permite pequenas variações e evita o efeito artificial de poses “congeladas”; mais um motivo para usar velocidades mais altas, porque, além de criar pequenas variações, evita o efeito artificial das poses “congeladas”.
Mas se aumentar a velocidade terei que aumentar o ISO... E agora?
Exceto quando o destino da imagem for a capa de revista, ou quando ocupar uma página inteira, um pouco de ruído é perfeitamente aceitável numa capa de revista ou página dupla de um impresso, em se tratamento de fotojornalismo, um pouco de ruído não um pouco de grão é infinitamente melhor do que uma foto borrada e inútil.
T2. Tripé
Se a profundidade de campo for importante ou se for utilizar velocidades abaixo de 1/15s é recomendável levar um tripé. Ele permitirá, também, a captura com ISO baixo, trazendo mais qualidade às imagens. Em retratos posados – em que o modelo se mantém no mesmo lugar –,o tripé ajuda a liberar o fotógrafo da preocupação constante com o enquadramento, para que ele possa se dedicar mais à direção, até mesmo sair de trás da câmera e olhar olho no olho de quem está sendo fotografado.
O bom senso deve orientar sua decisão: tripé é para ajudar e não para atrapalhar! Se o retrato é na rua e exige movimentação rápida, esqueça o tripé e aumente o ISO quando necessário (ou use um flash).
T2. Postura
Fotojornalismo não é fotografia de moda; você raramente estará lidando com modelos profissionais. Muitas pessoas não estão acostumadas a se relacionar com a câmera; por isso, retratos fotojornalísticos exigem paciência e observação constante. Cuidado com:
- pescoço encolhido – a pessoa deve alongar essa parte do corpo;
- ombros tensionados e costas curvadas;
- mãos e dedos – uma das perguntas mais comuns fotógrafos costumam ouvir em sessões de retrato é: “O que eu faço com as mãos?” Fique atento, também, ao posicionamento dos dedos;
- cotovelos e joelhos – o modelo deve evitar direcionar cotovelos e joelhos para a câmera, preferindo posições laterais.
T2. Composição
É muito importante deixar um respiro entre o assunto e a borda do quadro: não há como criar destaque para um assunto sem espaçamento; à exceção de alguns em close-ups, quando o objetivo é “encher” o quadro com a imagem do rosto da pessoa.
Fotografar de um ângulo baixo tornará a pessoa mais alta do que realmente é, conferindo, também, um ar de autoridade a ela. Esta técnica é muito utilizada para retratos de chefes de estado, empresários e líderes de um modo geral. Para adicionar mais drama a uma foto grande angular, tente inclinar a câmera em um ângulo, mas cuidado para não chegar muito perto, o modelo pode sair distorcido, o que não é nada lisonjeiro.
T2. Pose
Deve-se evitar clichês – como o empresário falando ao telefone ou teclando o computador enquanto olha para a câmera. A pose é permitida; segundo Sousa (2002), com a pose pode ganhar-se em capacidade de se impor um sentido à imagem, o que se perde em naturalidade. Mas também é possível fotografar o personagem em situações mais espontâneas; por exemplo, durante a entrevista. Nessa situação, o fotojornalista pode trabalhar mais livremente, beneficiando-se da distração e de um comportamento mais natural do retratado.
T2. Planos
Além de definirem os limites do enquadramento, os planos têm conotações que nos ajudam a atribuir um certo significado à imagem. De acordo com a nomenclatura cinematográfica, os planos, em retrato, se dividem em:
- Plano geral
É o plano mais distante; o corpo aparece por inteiro, sem cortes na cabeça ou nos pés.
- Plano americano
Este tipo de plano termina pela altura do joelho ou da coxa. Também conhecido como Três Quartos, o plano americano tem sua origem nos filmes do Velho Oeste, quando era importante enquadrar as armas colocadas no coldre dos cowboys. É um ótimo enquadramento para mostrar a interação entre duas pessoas.
- Plano médio
O plano médio enquadra da cabeça à cintura. Se a pessoa estiver sentada, o quadro pode descer até a metade da coxa. Sugere mais intimidade que os planos anteriores. É um enquadramento muito usado em fotografia de moda. Existe, também, uma variação menor deste plano, chamada de plano médio curto, que enquadra da cabeça até o meio do peito.
- Primeiro plano
Também conhecido como close-up, este plano inclui o rosto e os ombros do modelo. Este enquadramento serve para mostrar confiança e intimidade em relação à personagem.
- Primeiríssimo plano
Este enquadramento aproxima-se um pouco mais do que o anterior, capturando o rosto desde a testa até por baixo do queixo. A ideia, aqui, é transmitir intimidade e emoção.
Figura 39. Os planos da linguagem cinematográfica são usados, também, para orientar o enquadramento em retratos.
Fonte: https://azulbananastudio.files.wordpress.com/2012/06/planos.jpg.
Figura 40. sugestões de enquadramento em retratos.
Fonte: https://static.photocdn.pt/images/articles/2017_8/crop2-min.jpg.
T2. Pós-processamento
Em retratos, além das correções básicas de cor, contraste e reenquadramento, são frequentes alguns retoques como correções de marcas na pele, clareamento de dentes e remoção de áreas de brilho na pele.