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Neste capítulo estudaremos

Quando falamos de certificação, é importante analisarmos os diferentes setores e quais são os que mais se destacam nessa busca pela certificação de qualidade e porque isso ocorre.
O quadro 7 mostra quais os setores econômicos e industriais que mais se destacam no quesito certificação:
Quadro 7. Percentual de certificações ISO 9001 por setor de atividade.
Posição |
Setor |
1 |
Metal básico e produtos fabricados de metal. |
2 |
Equipamentos elétricos e ópticos. |
3 |
Construção. |
4 |
Comércio de atacado e varejo; reparos de veículos automotivos e motocicletas; bens pessoais e domésticos. |
5 |
Máquinas e equipamentos. |
Fonte: Adaptado de Epelbaum (2016).
No Brasil, é curioso ver que o setor com o maior número de certificações é o da metalurgia: Metal básico e produtos fabricados de metal.
Silveira (2017) realizou um estudo em uma empresa metalúrgica, a fim de buscar quais foram os resultados operacionais e financeiros da empresa Maio Indústria Mecânica Ltda. durante seu processo de adequação e certificação de Sistema de Gestão da Qualidade.
Ou seja, uma empresa que possui a certificação realmente melhora seu desempenho e se sobressai perante a concorrência?
Foram realizados para a pesquisa:
» Coleta de dados.
» Entrevistas.
» Observação direta.
» Análise.
» Validação do sistema de gestão para fins de reconhecimento formal.
A pesquisa documental limitou-se às fontes de dados secundários autorizados pela empresa e buscou mostrar o uso da metodologia de aplicação do Sistema de Gestão da Qualidade e a evolução do desempenho organizacional, a partir da relação de normas, planos de ação, atas de reuniões, gráficos, dados, planilhas, vídeos e outras fontes pertinentes.
Externamente, buscou-se publicações autorizadas pela empresa, matérias jornalísticas em jornais e revistas, folders e homepage institucionais, todas ligadas à empresa.
Entre os anos de 2010 a 2013, foram analisados quantitativamente alguns indicadores como faturamento, inadimplência e resultado financeiro, além dos indicadores operacionais em si, ou seja, produtividade, compra, devolução, refugo de produtos etc.
Para a aplicação do Sistema de Gestão da Qualidade, foram recrutados “dentro da própria equipe de colaboradores pessoas que pudessem auxiliar nas mudanças e que fossem capazes de estabelecer em cada setor as etapas para a implementação”, chamadas de facilitadores (SILVEIRA, 2017). Estes 6 facilitadores – 3 da administração e 3 da área da produção – foram responsáveis por disseminar o SGQ em toda a empresa.
Para iniciar os procedimentos de auditoria, os processos da empresa foram mapeados, entretanto, houve dificuldades de se adaptar os procedimentos que normalmente são utilizados à realidade produtiva e precisaram ser reescritos. Verificou-se que o mapeamento dos processos é muito importante para identificar como a empresa estava produzindo. É um raio-x do passo a passo até chegar ao consumidor final.
A grande dificuldade encontrada foi sanar o incômodo e a resistência dos colaboradores com a mentalidade de que tal mapeamento seria mais uma burocracia documental, dificuldade muito comum em todas as organizações, conforme já citamos anteriormente. A mudança do comodismo diário para novas atitudes sempre é um desafio a se vencer.
A empresa definiu uma nova política de qualidade, com um tripé de objetivos: “Assumir somente o que se pode cumprir. Não admitir falhas na entrega do prometido e Aceitar continuamente novos desafios” (SILVEIRA, 2017).
Podemos destacar como um dos principais avanços, a melhoria na organização do armazenamento dos produtos e o maior cuidado com o manuseio destes, com a antecipação da identificação de um produto não conforme durante o processo produtivo, contribuindo para o atendimento ao requisito 8.3 da norma (Controle de produto não conforme). A figura 22 mostra o comparativo entre antes e depois da implementação do SGQ no setor de estoque.
Figura 22. Antes e depois do setor de estoque.
Fonte: Silveira (2017).
Uma das mudanças foi um maior controle e verificação dos fornecedores, com mecanismos de avaliação para uma melhoria no recebimento e na entrega dos produtos. A criação de uma planilha de não conformidades encontradas, conforme a figura 23, e a criação de uma planilha de controle de fornecedores auxiliaram a empresa neste sentido.
Figura 23. Planilha de não conformidades elaborada pela empresa.
No |
Data |
Área que detectou o problema |
Nome |
Área responsável pela ocorrência |
Descrição da ocorrência |
Solução para a Ocorrência |
Colaborador |
Data da resposta |
Encerrada (sim ou não) |
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Fonte: Silveira (2017).
Foi criado também o planejamento estratégico do processo produtivo, alterando a linha de produção e seu layout, fazendo com que os colaboradores trabalhassem sequencialmente, quando antes este trabalho era realizado por células de trabalho. Assim, cada colaborador se especializou em um setor exclusivo do processo, agilizando-o, e aperfeiçoando este funcionário. Para ajudá-los, houve uma melhoria também na tecnologia empregada, com manutenção das máquinas e otimização dos equipamentos como um todo.
Em termos financeiros, a empresa passou a criar indicadores importantes, como indicadores de recompra e de produtividade, de produtos reprovados, indicadores de devolução, entre outros. Todos tiveram significativa melhora após o começo da implementação do processo do Sistema de Gestão da Qualidade. O quadro 8 mostra o aumento da receita bruta ao longo dos anos do processo de implementação do SGQ.
Quadro 8. Receita bruta de vendas entre 2010 e 2012 no processo de implementação do SGQ.
Ano/indicador |
2010 |
2011 |
2012 |
Receita Bruta – vendas |
R$10.257.584,45 |
R$13.714.064,24 |
R$15.963.783,03 |
Fonte: Silveira (2017).
Podemos ver o aumento considerável nas receitas da empresa. Em 2011, esse aumento foi de mais de 33% e, em 2012, o aumento foi de mais de 55%.
Sobretudo, a maior das mudanças, que podemos entender como o reflexo das demais mudanças da empresa, foi o produto final que teve significativa mudança na qualidade, mudança que de alguma forma impacta nos frutos econômicos, com a fidelização e aumento de clientes e vendas, controle de qualidade significativo, entre outras vantagens.
Após a organização da empresa, buscou-se a certificação a partir da contratação de empresa externa, mas antes, contratou-se um consultor para melhor adequar as auditorias internas até a auditoria de certificação. Após várias adequações solicitadas, houve uma pré-auditoria da empresa e, após novas ações, a certificação de fato ocorreu e o parecer positivo para o certificado de Gestão de Qualidade aconteceu. O certificado tem validade de três anos, devendo-se depois disso realizar novas auditorias, as chamadas auditorias de recertificação.
Pode-se concluir que a implementação da ISO 9001:2008 levou a organização a obter significativa melhora nos seus resultados operacionais, gerenciais e estratégicos. No sentido operacional, obteve-se a padronização dos produtos e processos, resultando em reduções de retrabalho, melhora significativa na organização da fábrica.
Em relação aos clientes, a certificação melhorou a imagem da empresa e do produto, o que trouxe significativo aumento de vendas e ampliação do mercado de atuação.
Nós falamos, ao longo de todo este material de estudo, sobre a globalização das economias e dos mercados em todo o mundo e o quanto essa é uma questão importante para ser levada em consideração pelas organizações que queiram expandir seus horizontes de produção e mercados consumidores.
O desenvolvimento de sistemas de gestão cada vez mais abrangentes tornou-se um importante diferencial das organizações diante da concorrência. Para isso, estas têm buscado o desenvolvimento de sistemas de gestão que tragam melhores custos-benefícios e, ao mesmo tempo, destaque no mercado em que atuam.
Como falamos ao longo desse material, o Sistema de Gestão de Qualidade, popularizado pela Norma ISO 9001 foi pioneiro na busca de melhorias para as organizações, seus produtos, processos e sistemas, e para o mercado consumidor como um todo.
Embora sua difusão tenha sido a partir da década de 1990, atualmente são poucas as empresas que buscam apenas se adequarem a um SGQ e se certificar. A tendência de mercado é que se busque algo a mais do que uma qualidade plena.
O destaque é o sistema de Saúde e Segurança do trabalho, que, cada vez mais, está sendo adotado pelas organizações em geral enquanto compromisso social, sobretudo, mas também como melhorias materiais na redução de custos, sobretudo os relacionados a acidentes de trabalho e a integridade física e mental dos seus colaboradores. Para padronizar e atender a essa demanda, foi desenvolvida em âmbito mundial a norma OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety).
Outra iniciativa que propõe mudanças para as organizações, baseada na realidade de degradação ambiental de todo o planeta, foi o desenvolvimento de um Sistema de gestão Ambiental, concretizado pelas normas da família ISO 14000, que tem na norma ISO14001 a possibilidade de certificação para organizações em conformidade com o compromisso de melhoria no desempenho ambiental.
Mais contemporânea é a discussão sobre a Responsabilidade Social das organizações, que foi consolidada pela criação da Gestão da Responsabilidade Social, conforme a ISO 16001 - Responsabilidade Social: Requisitos do Sistema de Gestão, com versão recente publicada em 2012.
Todas essas normas têm em comum o foco na melhoria contínua da gestão, buscando o cumprimento de requisitos legais, das políticas da empresa e, especialmente, estas normas são baseadas no ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act), que já falamos anteriormente.
Por estas ações em comum, a integração destes sistemas é totalmente possível. E, assim, foi desenvolvido o Sistema de Gestão Integrada (SGI).
O que é um SGI?
O Sistema de Gestão Integrada (SGI) é basicamente a combinação de processos, procedimentos e práticas adotadas por uma organização, com o objetivo de implementar políticas e atingir os objetivos pretendidos de forma mais eficiente, ao invés de utilizar múltiplos sistemas de gestão de forma individualizada. Permite, assim, integrar de forma mais eficiente, nas operações do dia a dia das empresas, os aspectos e objetivos da qualidade, do desempenho ambiental, da responsabilidade social, da saúde e segurança ocupacional, entre outros setores.
Embora não tenha uma norma específica para a implementação do SGI, são utilizadas para tal as certificações das normas citadas. Apesar disso, há a necessidade de se elaborar uma norma específica para certificação deste sistema. Em decorrência desta necessidade, a entidade britânica responsável pela elaboração de normas, a BSI (British Standards International) desenvolveu a primeira especificação no mundo relativa a requisitos comuns de Sistemas Integrados de Gestão, a PAS 99:2006. Esta fornece um modelo para que as organizações integrem em uma única estrutura todas as normas e especificações de sistemas de gestão (DE CICCO 2008).
A grande vantagem do sistema integrado é a possibilidade de utilização de vários elementos comuns à gestão de cada um dos itens, o que evita a duplicação de procedimentos da empresa. Existem diversas normas internacionais que tratam da questão dos sistemas de gestão, dentre as quais, as mais conhecidas são as da ISO (9001 e 14001) e a da OHSAS 18001 para as questões de saúde e segurança. A figura 24 mostra o esquema que forma um Sistema de Gestão Integrada.
Figura 24. Conceito de SGI.
Fonte: Adaptado de Fernandes et al. (2012).
Claro que o atendimento a demanda dessas normas requer um grande esforço por parte das organizações. Além da disponibilidade financeira e de pessoal dedicado, requer esforço que vai além de todo o sistema existente em funcionamento.
Mas as vantagens existem e são cada vez maiores diante do mercado. A adoção do sistema integrado evita gastos com ações que se repetem nos requisitos isoladamente. E não é preciso obrigatoriamente obter uma certificação para que o sistema seja considerado eficaz.
Entre as principais vantagens de se implementar um SGI estão (FERNANDES et al., 2012):
» Diferencial competitivo e fortalecimento da imagem diante do mercado consumidor e internacional.
» Atendimento das demandas do mercado internacional e dos anseios da sociedade.
» Padronização internacional na gestão.
» Melhoria como um todo na relação da organização e seus colaboradores.
» Maior capacitação e educação dos colaboradores.
» Aumento da conscientização das partes interessadas.
» Minimização dos riscos e aumento da segurança como um todo.
» Redução de investimentos com auditorias e riscos.
» Redução de custos: desde matérias-primas otimizadas até diminuição de acidentes, entre outros fatores de redução.
Portanto, cabe a reflexão de se colocar na balança o que realmente é valoroso para uma organização. Obter crescimento e vantagens exclusivamente econômicas ou crescer em sua essência, buscando valorizar colaboradores e clientes acima de tudo?
Considerações finais
É importante refletirmos sobre a importância do que pode representar para uma organização obter uma certificação da norma ISO 9001.
Em todo o mundo, cerca de 170 países utilizam a normas da Organização ISO e mais de um milhão de empresas de todo o mundo já foram certificadas na ISO 9001. Só na América do Sul, são mais de 50 mil empresas certificadas.
Com a globalização e o mercado internacionalizado, as normas ISO se tornaram uma importante ferramenta de avaliação padronizada para o processo produtivo das empresas de todo o mundo. Mesmo que haja diferenças culturais, de métodos, de aplicações e de formas de trabalho por todo o mundo, a normatização dá uniformidade no que tange o atendimento aos desejos dos clientes e da melhoria contínua dos processos, por mais distintos que estes sejam.
Assim, a ISO 9001 possui reconhecimento, utilidade e validação por todo o mundo, e a certificação de uma organização abre portas para a negociação com qualquer tipo de mercado e tipo de consumidor dentro e fora do seu país de origem.
Mas, em cada nação, a norma recebe sua própria versão de acordo com a legislação e características de cada país. No continente americano, em geral, o uso da ISO 9001 é muito grande e considerado um fator decisivo para as trocas comerciais.
No Brasil, a transição das certificações da norma de 2008 para a norma atualizada em 2015, fez com que a quantidade de certificações tivesse uma pequena reduzida, entretanto, conforme a obrigação de se adequarem à nova norma até 2018, o número de certificações voltou a crescer significativamente no país (Blog Qualidade Simples, 2017):
» 18.201 empresas certificadas em 2014.
» 17.512 empresas certificadas em 2015 (queda de 3,8% em relação ao ano anterior).
» 20.908 empresas certificadas em 2016 (aumento de 16,2% em relação ao ano anterior).
Esse valor de 2016 fez com que o Brasil ficasse na décima posição mundial de certificações, o que, considerando os países da Europa, Estados Unidos e China, grandes potências comerciais, é uma posição bastante significativa em relação a todo o mundo.
A China, aliás, é o país que lidera esse ranking com mais de 350 mil certificações, seguido por Itália, Alemanha, Espanha, Polônia, entre outros, especialmente da Europa e Ásia. Com destaque também para a Índia, uma vez que este, diferente dos demais citados, possui características econômicas semelhantes ao nosso país e está em ascensão neste processo de certificações.
Se fizermos uma reflexão história da normatização brasileira, nestes 30 anos de existência da ISO 9001, ocorreram 4 revisões dos requisitos e outras alterações nas normas da família ISO 9000. A partir da ISO 9001 foram criadas outras normas de sistemas de gestão, como a ISO 22000 para segurança de alimentos, a ISO/TS 16949 para o segmento automotivo, ISO/IEC 27000 para a segurança da informação etc.
Segundo Alves et al (2017), em estudo realizado com empresas certificadas, mostram que as principais motivações para implementação da ISO 9001 citadas pelas essas empresas foram: melhoria na organização interna, maior eficiência produtiva e maior confiabilidade na marca da empresa perante consumidores. Já as principais dificuldades apontadas estão relacionadas à resistência de funcionários e colaboradores.
Embora haja dificuldades – e muitas! – para a implementação da norma e da sua certificação, os benefícios são imensos. Essa resistência dos colaboradores em geral pode ser combatida e minimizada realizando incansáveis treinamentos, palestras e, sobretudo, esclarecendo e debatendo juntamente com todos os novos procedimentos, seus benefícios e dificuldades para todos de dentro da organização. Não é fácil, mas é sim recompensador.
É importante simplificar a norma a todos os colaboradores. Supondo que a organização trabalhe com pessoas menos instruídas, e que não possuem intimidade com os termos da norma. Como o processo de adaptação deve envolver a todos, cabe à direção estabelecer formas de alinhar a linguagem da norma para todos que ali trabalham.
Lembrando sempre que envolvimento não é imposição! Só com a participação de fato de todos é que a cultura poderá ser mudada.
Os benefícios seguintes são diversos e já destacamos neste material, mas é sempre importante enfatizar os benefícios levantados pelas próprias organizações na prática de certificação (ALVES et al., 2017):
» Aumento de produtividade, sem desperdícios oriundos de não conformidades.
» Padronização dos produtos, conforme padronização das práticas e métodos de trabalho de todas as áreas.
» Gestão por indicadores dos principais processos da empresa, o que proporciona uma base sólida para um programa de melhoria contínua.
» O aumento da participação de todos os colaboradores é um dos melhores benefícios. Desde a alta direção até o setor produtivo, todos comprometidos com o mesmo ideal e melhorias.
» Aumento da confiança dos clientes em relação àquele produto ou àquele serviço.
» Garantia de melhores condições de fornecimento e atendendo à política da qualidade da empresa em relação às parcerias com clientes.
» Melhoria no trato com as reclamações e devoluções de clientes, tornando mais ágil o processo de disposição destas ocorrências e fazendo o cliente sentir mais confiança na empresa.